terça-feira, 25 de agosto de 2009

Corrida

terça-feira, 25 de agosto de 2009
Autor: Eddie J.K.
Classificação: L
Obs: Inspirado pela música "Acredito em Anjos"
da banda Nova Bossa.




Estou correndo, estou correndo; por dentre de campos abertos, por dentre de sonhos imagináveis. Estou deixando o passado para trás, apenas levando comigo certas lembranças, aprendizados, que podem me impulsionar para mais longe.

Persigo o pássaro verde, procuro o pote de ouro. Cadê? Algum dia irei achar a minha paz, a minha felicidade? Cadê o meu sol?

Acredito em anjos, acredito que as nuvens acima me aguardam; acredito que há alguém nesse mundo para mim, alguém que pode viver essa eterna solidão ao meu lado.

Você me disse que ama, mas não o amo. Eu te disse que eu te amo, mas você não me ama. Alguma vez nós encontraremos nessas contradições? Alguma vez nos encontraremos nesses parágrafos?

Talvez não seja você, talvez seja. Como irei saber? De espirito jovem, ainda corro sem sentido e sem nenhum plano, corro entre chuvas e tempestades, entre dias ensolarados e arco-iris; mas nunca paro.

Nada pode me fazer parar.

Por isso, tropeço e tropeço, mas nunca caio para trás, estou sempre correndo, correndo; até chegar no final, onde finalmente correrei para os braços quentes e reconfortantes da Morte.

Dia de chuva (ou conversa de botas batidas)

Autor: Branca
Classificação: L

-”Ah, dane-se. Os velhos falam sozinhos e eu sou velho. E eu nem falo muito com as pessoas que eu cuido, não quero que me chamem de velho maluco, sabe? E, de qualquer jeito, o senhor morreu, não é como se você fosse se importar muito com isso. Na verdade, desde que eu comecei a trabalhar aqui acho que essa é a primeira vez que eu falo com um cadáver. Não, não precisa se preocupar, não é a primeira vez que ninguém vem num velório. Mas das outras vezes que eu estava sozinho, não estava chovendo, aí eu ficava do lado de fora, pegando um sol. Faz bem pros ossos. Mas hoje eu não posso me arriscar a ficar na chuva e pegar uma pneumonia. Com a minha idade não se brinca com essas coisas, não é? Até porque de tanto conversar com a moça da funerária eu acho que eu estou virando meio hipocondríaco. Eles sempre têm umas histórias horríveis sobre os mortos. Antigamente as pessoas morriam porque ficavam velhas e pronto. Hoje não, é assassinato, é doença esquisita, é suicídio... O senhor não ia acreditar na quantidade de suicidas que aparecem aqui. A família esconde, sabe como é, pra poderem enterrar o dito cujo direito. Mas a gente sempre sabe. O velório fica com um clima diferente. Eu geralmente aposto com o Carlinhos, pra ver quem adivinha do quê o defunto morreu. Você tem cara de câncer. Ou Alzheimer. Eu sempre acerto. Acho que é porque eu trabalho aqui já tem... deixe-me ver, eu vou fazer setenta e dois em abril, então... vinte... vinte e oito anos que eu trabalho aqui. Antes eu era policial, mas aí quando eu vi que abriu uma vaga pra segurança da capelinha eu não pensei duas vezes. Era muito difícil pra minha esposa, que deus a tenha, me ver trabalhando na polícia, era muito arriscado. Aqui é mais calmo. Eu trabalho de dia, e de noite o Carlinhos me substitui. Morro de medo de ficar aqui de noite, no escuro. Não que eu acredite em fantasmas. Mas se eu encontro uma alma penada eu tenho um enfarto. Infarto. Será que foi assim com você também? E se eu enfartar quem vai cuidar do cachorro? Ele está tão velho que nem os meus netos, que são umas pestes, você precisa ver, conseguem fazer ele brincar. E os meus filhos sempre reclamam que não dá pra cuidar de um animal num apartamento. Só a minha mulher que nunca reclamava dele. Olha, seis horas, já. O Carlinhos já deve estar chegando. Tchau. Mas que coisa de louco, se despedir de um morto! Estou virando um velho maluco mesmo. Mas, ah, eu falo com o meu cachorro, ele também não me responde e ninguém diz que eu sou maluco por causa disso. E às vezes faz bem ouvir o som da sua própria voz. Principalmente quando você passa tanto tempo sozinho, que nem eu. Pensando bem, você deve estar se sentindo um pouco sozinho também. Mas eu aposto que amanhã, no seu enterro vai tem um bando de gente. Quem sabe eu não venho também, hein? Vou tentar até trazer umas flores pra você. Tem umas flores brancas tão bonitas na floricultura da minha rua, mas eu nunca consigo lembrar o nome. Ah, quer saber? Acho que vou esperar aqui até o Carlinhos chegar, pra você não ficar sozinho. Você não se importa se eu dormir um pouquinho, não? Velho tem muita insônia, então tem que aproveitar quando o sono aparece. Além do quê, eu posso pegar o guarda-chuva do Carlinhos emprestado quando ele chegar, eu não quero me molhar e essa chuva não tem cara de que vai parar tão cedo. Bom, boa noite então.

- Boa noite.”

domingo, 23 de agosto de 2009

Sem título

domingo, 23 de agosto de 2009
Autor:Jogate
Classificação: L



O meu sentimento não diminui ou aumenta

Estou em um momento terrível , meu deus será que a minha cabeça aguenta?

Não esqueço os momentos que passamos juntos e que aproveitamos o Sol e a Lua

Era fácil sorrir , bastava te chamar e te ver vindo pela rua

Agora aquilo tudo me parece tão distante

Passo por um momento difícil em que lembro de você a todo instante

Seu carinho e seu afeto estão me fazendo muita falta

Choro agora todos os dias por que você se distanciou de mim e foi para longe para a montanha mais alta

Necessito de você mais uma vez dizendo que me ama,mesmo sendo uma ilusão

Você não entende, estou com a corda no pescoço e e preciso nesses últimos momentos acalmar meu coração.

O carrasco está para chegar

A minha sentença ele já sabe só falta finalizar

Minha boca séca e se fecha

Mas meu coração não se aquieta

Lembra de quando você riu em meus braços ate chorar?

Daria o que restou da minha vida para naquele instante voltar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mar Revolto

terça-feira, 11 de agosto de 2009
Autor: Eduarda
Classificação: 14+





Seu coração batia rápido, acelerado como sua respiração, um frio passando por sua espinha e suas mãos – encharcadas de suor e um liquido vermelho, quente e denso. Era sangue.

Fechou os últimos botões de seu sobretudo, escondendo sua blusa manchada de sangue. No seu bolso, a arma de metal pesava toneladas. Fechou os olhos e pôs-se a deslizar na parede, sentando no meio-fio. Tentou se acalmar respirando lentamente, sentindo o cheiro salgado do mar das docas invadir seu corpo. O mar lhe dava uma sensação de paz, e logo, logo, seu coração não estava martelando em seu peito.

Lembrava-se do que havia acontecido; tudo parecia ser como um filme passando por detrás de suas pálpebras. Joaquim fechou os olhos e as memórias vieram em sua cabeça, vividas e perturbadoras.

Estava sentado em uma poltrona em frente a uma lareira. Olhava para o relógio, impaciente, e depois para a porta, ansioso. Esperava, esperava, esperava; podia ouvir cada rangido daquela casa e o pêndulo do relógio escoava em todos os cantos, o “tic... tac...” repetia-se eternamente pelo ar. Uma vez ou outra tirava o revolver do bolso e o examinava, conferindo se as balas estavam ali, e voltava a guarda-lo.

Finalmente, ouviu passos vindos do assoalho do corredor, e logo a porta abriu, rangente. Uma mulher alta, loira de cabelos que lhe caiam nas costas de maneira bagunçada e de intensos olhos azuis apareceu, rindo e beijando um homem duas vezes maior que Joaquim, ombros largos e queixo protuberante. Ora, quem diria que sua esposa estaria cometendo adultério com o amigo de infância do homem?

Joaquim pigarreou, anunciando a sua presença no recinto. Pareciam tê-lo notado; os dois pararam abruptamente quando viram que Joaquim encontrava-se ali, com um sorriso estranho no rosto.

-Joaquim...? - disse sua mulher, com a voz ofegante.

Sua mulher e seu melhor amigo... Sua mulher e seu melhor amigo...”, pensava constantemente. Sentia uma vontade de rir, rir de si mesmo por ser bobo ao pensar que os dois eram fiéis a ele.

-Me desculpe... Foi algo que aconteceu, não era algo que queríamos... - seu amigo balbuciava, tropeçando em palavras.

Sem pensar e sem dar explicações, sacou o revolver e atirou nos dois, abafando o barulho ensurdecedor com a almofada. Os dois corpos caíram sem vida no chão com um baque surdo, com os olhos vidrados e assustados, os lábios entreabertos pelo grito silencioso que nunca saiu de suas bocas.

Não se importava que tinha acabado de cometer dois homicídios. Nada mais lhe importava – tudo que tinha significado era seu amor pela sua mulher e por seu melhor amigo, mas agora Joaquim soube que isso também fora insignificante; era tudo apenas uma farsa, uma enorme peça de teatro.

Foi até o canto da sala, cantarolando a música da primeira dança dos noivos em seu casamento, saltando pelos dois corpos no chão como se fossem meros objetos. Chegou até o corredor, onde havia deixado uma garrafa de querosene, e a trouxe até a sala. Espalhou querosene por todo lado, fazendo questão de encharcar os dois corpos naquele liquido. Assim que o galão já estava vazio e a música havia acabado, jogou o recipiente para o lado e dirigiu-se até sua mulher – quer dizer, ex-mulher – e quis tirar-lhe a aliança. Não conseguiu.

-Sem pressa, sem pressa... - sussurrava para si mesmo - Não tenho pressa...

Voltava a cantarolar a música. Como não conseguia, pegou uma faca e cortou o dedo anelar de sua mão, retirando a aliança de seu dedo e colocando-a no bolso. Jogou o pedaço de seu dedo no chão, acabando por sujar sua blusa de sangue. Deu de ombros e levantou-se, olhando ao redor. Algumas faíscas jorravam para fora da lareira, e pouco a pouco, foram queimando umas fotos largadas no chão; o fogo aumentava de uma forma ameaçadora, criando rastros e labirintos por todos os lados.

Joaquim não se importou que estava pondo fogo na própria casa. Saiu de lá, sem antes pegar o guarda-chuva por causa da chuva que começava a cair. Caminhou por um tempo, e logo viu a casa inteira começar a sucumbir pelo fogo que aumentava. Os vizinhos acordaram, assustados, berravam freneticamente, corriam pelo telefone para chamar os bombeiros ou corriam pela rua; mas ninguém parecia notar numa figura que andava meio apressado e meio devagar, cantarolando uma melodia dos Beatles no meio de toda aquela berraria.

Agora, sentado no meio fio perto das docas, Joaquim pegou o anel ensangüentado no bolso e viu este reluzir na fraca luz vinda do poste. Sorriu, e quem ria por ultimo ria melhor. Jogou o anel no mar, esperando que este fosse levado embora – assim como o amor e a vida de sua esposa.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Música oculta

sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Classificação: 16+
Autor: Lorena




Ele está tocando, uma musica que eu desconheço, mas ela entra pela minha pele, pelos meus ouvidos, e eu me arrepio, me estabilizo. Sinto uma conformidade do local, do ritmo lento de um violino, de um homem bonito, de um sexo quente. [Sei que em minhas escrituras costumo citar o sangue, o amor, o calor, o sexo. Ele está presente na minha vida, no momento em que escrevo. Por mais que haja esse tal tabu ao falar de algo tão bom para nós, é assim que me sinto.]

O tal homem é sério, é de estatura media, moreno, centrado naquilo em que estuda no momento. Seus sapatos são de alguém jovem, que gosta de moda. A parte da perna que posso ver antes da bermuda é peluda, chamativa. Usa um casaco azul, faz frio. Sua boca não é nem tão carnuda nem tão fina, é bonita. Seus olhos são escuros, feito um chocolate quente, como seu cabelo. Sua voz agora não escuto, mas presumo que seja simples, direta, sem extravios. Sua partitura agora se encontra sozinha. Mostra símbolos que se transformam em poesia no momento em que ele passa para seu instrumento. Estou em seu quarto, a alguns metros distante. Sentada numa cama, olhando suas costas, sua concentração.

Em um instante o som para, e depois volta. Em cima de sua partitura, alem do livro com aqueles tais símbolos, existe um aparelhinho. Não sei para o que ele possa servir, mas sei que a cada nota diferente que sai do violino, uma letra diferente aparece no tal aparelho. Ele voltou, seu queixo encosta no instrumento. Para de tocar e passa algo em seu arco, como se passasse giz no taco de sinuca. Volta a tocar. O ensaio para novamente, ele vem até mim, está com sede. Lhe indico o caminho da água, depois de um tempo ouço a musica novamente e as letrinhas mudarem no tal aparelho. Ele questiona o que venho a escrever, recuo. E a musica volta, vou-me embora, me apaixono fácil. Não consigo ir embora, o som me chama, e ele também.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Rainha de copas

quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Classificação: L
Autor: Jogate
Texto produzido durante a oficina.
Recebemos a seguinte frase: "Roberto foi ao cassino, ganhou um milhão de dólares, voltou pra casa e se matou." e tivemos que criar uma história.







Estou a caminho de casa agora com 1 milhão de dólares na conta, mas como eu cheguei aqui?

A pouco mais de um mês me senti muito cansado e fui ao médico, fiz uns exames e foi diagnosticado que eu tinha um efizema pulmonar, e que estava em estado termina.No caminho de volta para casa pensei nas minhas poucas conquistas: um emprego sem grandes ambições, não tenho grandes amigos e nem mesmo uma familia. Lembrei-me então de Rosa, minha primeira grande paixão, que eu deixei por medo ao vê-la grávida.Então tomei uma decisão.

Na semana seguinte a procurei no seu endereço antigo, descobri que ela morrera anos atrás no parto de nossa filha Paola.Peguei o endereço da minha filha e fui atrás dela.

Ela morava naquela mesma cidade, cheguei depressa ao local.
Toquei a campainha, e a cada toque meu coração acelerava mais e meu coração se enchia de esperanças.

Quando ela atendeu fiquei pasmo ao ver aqueles olhos castanhos mais uma vez, aquele cabelo negro, que antes me conquistou no corpo de sua mãe.Ela confirmou na porta mesmo que era Paola filha de Rosa e me deixou entrar,Contei com grande entusiasmo que era seu pai, fiquei muito emocionado, mas Paola debulhou em lágrimas e despejou o que mais de 20 anos de descaso fazem.

Me senti envergonhado, e sai com um peso no coração.

Um dos vizinhos disse que nunca a viu assim e aquela havia dito para que esse pai Roberto nunca mais a procurasse, entendi o recado e fui embora.

Fui para o cassino local onde conheci minha amada, queria poder entrar em contato com
ela.

Bebi uma dose de uísque e fui jogar, apostei alto, meu valioso carro, com mais 5 homens, havia jogado poucas vezes, não queria ganhar queria perder para ver se iria me sentir melhor, mas quis o destino ou Rosa que eu ganhasse, ganhei com uma dama de copas carta da sorte de Rosa.

Mas o que fazer com aquele dinheiro?

Agora estou aqui no meu carro andando sem saber para onde, queria poder entregar esse dinheiro a minha filha, mas ela não aceitaria; a menos que ela não tivesse escolha.

Estou acelerando,acelerando,para ir encontrar,encontrar Rosa; vejo uma luz,seria ela? Espero que sim.




Roberto se matou, jogando-se da estrada deixando tudo para sua unica filha, Paola.